Immanuel Kant
(1724 - 1804)
Durante o ano de 1927-8, em que atuou como professor, o matemático e filósofo inglês Alfred North Whithead (1861-1947) deu a prestigiosa palestra Process and Reality [Processo e Realidade], durante as Gifford Lectures, na Universidade de Edimburgo. Nessa palestra, ele fez uma declaração que se tornou famosa: “A caracterização mais geral da tradição filosófica europeia é que ela consiste em uma série de notas de rodapé referentes à obra de Platão”. Uma caracterização mais precisa da filosofia europeia moderna poderia ser que ela consiste em uma série de notas de rodapé referentes à obra de Kant. Não há sequer uma área da filosofia moderna – de lógica matemática à fenomenologia – que Kant não explore. Todos os que seguem seus passos precisam, em algum ponto de suas carreiras, definir-se como favoráveis ou contrários a posições kantianas. O pensamento moderno começa com Kant. Se Platão introduziu os temas eternos do questionamento filosófico e Aristóteles (384-322 a.C.) concebeu o primeiro sistema filosófico, Kant construiu o mais abrangente e detalhado sistema de filosofia desde a revolução científica. Seu trabalho coloca perguntas que continuam fixas na imaginação dos filósofos de hoje. Sua influência é sentida em todas as áreas da filosofia e transborda para outras disciplinas tão diversas quanto o direito e a astronomia.
O amadurecimento do homem
Em 1784, Kant abordou a questão de Deus e o pós-Iluminismo em seu ensaio “Resposta à pergunta: o que é o Iluminismo?” Nele, Kant questionou: qual é o papel atual da autoridade da Igreja e do Estado em relação à liberdade individual? Que papel as autoridades religiosas e seculares deveriam exercer nas vidas dos cidadãos? Em sua resposta, Kant traçou um resumo sucinto de sua filosofia altamente complexa e sistemática, preocupada acima de tudo com a questão da liberdade humana: “O Iluminismo é a emergência do homem de sua imaturidade autoimposta. Imaturidade é a incapacidade do indivíduo de usar a compreensão sem orientação alheia. Esta imaturidade é autoimposta quando sua causa reside não na ausência de compreensão, mas na falta de determinação e coragem para usá-la sem a orientação de um outro.” Ele seguiu resumindo toda a sua filosofia do conhecimento e da liberdade: “A preguiça e a covardia são as razões pelas quais uma proporção tão extensa dos homens, mesmo quando a natureza já os emancipou há muito de orientação externa, permanece alegremente imatura durante toda a vida. Pelos mesmos motivos, é sempre muito fácil para outros colocarem-se como seus guardiões.”
Conhecimento e liberdade
Na concepção de Kant, os problemas do conhecimento e da liberdade andam de mãos dadas. Além disso, ambos levantaram as questões filosóficas mais profundas para ele: se, por meio do conhecimento, descobrirmos regras ou leis que regem o mundo natural, como o homem pode ser livre? As ações do homem não são governadas pelas regras de causa e efeito? Elas podem até mesmo ser predeterminadas? Trabalhando com essas questões, Kant publicou seus três principais tratados: Crítica da razão pura (1781; fez revisões importantes para a segunda edição de 1787), Crítica da razão prática (1788) e Crítica da faculdade de julgar (1790).
Em sua Crítica da razão pura, Kant tenta fornecer uma base para as leis da ciência, ao mesmo tempo em que estabelece o sujeito humano como um agente racional caracterizado pelo livre-arbítrio. Na Crítica da razão prática, ele argumenta que o livre-arbítrio do homem, embora possa ser teoricamente comprovado, somente resulta, de fato, da nossa consciência desse livre-arbítrio emanando de dentro de nós. É a nossa consciência que nos liga à lei moral, e nosso conhecimento da lei moral não é imposto a partir do exterior por Deus ou qualquer outro agente. Na Crítica da faculdade de julgar, Kant está preocupado com juízos estéticos e questões teleológicas, como: “Qual o propósito de sistemas ou organismos naturais?” Com isso, ele deixa a porta aberta para o questionamento ético e teológico. Por exemplo, que papel Deus exerce no mundo?
Qualquer um desses três tratados seria considerado a conquista de toda uma vida para um filósofo, mas Kant publicou muitos outros livros, desde os primeiros tratados sobre ciências naturais (sobretudo astronomia) até trabalhos sobre filosofia da história e estética.
Imperativo categórico
A preocupação de Kant com questões de conhecimento e liberdade o levou naturalmente à ética e à pergunta final: “O que é a coisa certa a fazer?” Kant rejeitava a ética utilitarista de Jeremy Bentham e John Stuart Mill, que sustenta que as boas ações são aquelas que levam à maior quantidade de felicidade (o “cálculo hedonista” de Bentham) para o maior número de pessoas. Em A metafísica dos costumes (1785), Kant contestou o utilitarismo ao propor que, se permitirmos que nosso comportamento seja regido por motivos utilitaristas, poderemos valorizar outras pessoas sob a luz do “bem” para o qual elas podem ser usadas – tratando-as, portanto, como meios para um fim, e não como fins em si. Ele também refutou a doutrina do absolutismo moral, que sustenta a existência de normas absolutas de conduta que resultam em comportamentos “certos” e “errados”, qualquer que seja o contexto. A resposta de Kant ao utilitarismo e ao absolutismo moral foi o desenvolvimento do imperativo categórico, uma regra segundo a qual o homem deveria agir eticamente: “Aja somente conforme aquela máxima que, ao mesmo tempo, você possa desejar que se torne uma lei universal”. O imperativo categórico é bem ilustrado pela famosa distinção ética “é /deveria ser”. Para Kant, nosso comportamento ético (“deveria ser”) não necessariamente deveria resultar de um estado particular de coisas (“é”). Nosso sentido de dever ético jamais deveria incluir o que nos é impossível fazer; neste sentido, “deveria ser” implica “pode ser”. A ética deontológica de Kant é um caso de “poder fazer”: se eu deveria fazer isso e aquilo, então me é logicamente possível fazê-lo; e, deste modo, eu posso fazê-lo.
Fonte: "50 pensadores que formaram o mundo moderno" (Leya Editora), de Stephen Trombley.
Modelos de Repertório Sociocultural
#01
No livro “Fundamentação da Metafísica dos Costumes”, de 1785, o filósofo Immanuel Kant explicita o conceito de Imperativo Categórico, que se caracteriza por ser uma ação/atitude racional replicável como lei universal.
#02
Tomando por base a noção de “Imperativo Categórico”, formulada por Immanuel Kant (no século XVIII), as ações humanas devem ser pautadas pela racionalidade – tal qual uma “bússola moral” – de maneira que a sociedade (as pessoas) não seja(m) usada(s) como um meio para se chegar a um fim, preservando, dessa forma, a dignidade humana.
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